Cada vez mais, uma parte considerável de pessoas está aprendendo sobre tipografia por razões diversas. Elas podem não saber a diferença entre a serifa egípcia e a didone, mas estão cada vez mais atentas sobre o tipo de mensagem que querem transmitir e quais tipografias utilizar. Os computadores pessoais são a principal razão para esse interesse. Se Steve Jobs não tivesse gostado de caligrafia enquanto estudava na universidade e não tivesse decidido incluir um menu de fontes no software de computador, talvez não estivéssemos tendo esta conversa.
Esse é o meu tipo, escrito pelo jornalista britânico Simon Garfield, é longe de ser um livro especializado. É, na verdade, um almanaque de curiosidades sobre tipografia e talvez justamente por isso traga uma contribuição importante. O assunto tipografia traz sentimentos conflitantes: ao mesmo tempo que é a base fundamental do nosso trabalho, também é fonte de muita insegurança aos jovens designers. É bastante comum ter o sentimento de estar fascinada pela forma e pequenos detalhes das letras e ao mesmo tempo ter um pânico mortal, como se estivesse pisando em ovos ao ajustar um kerning.
O valor do livro está em mostrar como um assunto tão específico pode encontrar paralelos na experiência e vivência de mais e mais pessoas. Afinal, não são só os designers que tomam decisões tipográficas diariamente: um post no instagram já nos pergunta como escrever — moderna, neon, typewriter… Como nós, designers, podemos aproximar a tipografia do público leigo? Será que essa é também uma responsabilidade nossa? Como estabelecer um equilíbrio entre o uso de termos técnicos e a tradução para os leigos? Talvez o livro não traga grandes revelações para nós designers, mas, se prestarmos um pouco mais de atenção, é possível perceber que a crônica simples e os casos anedóticos do autor podem nos dar dicas valiosas de como tornar a tipografia um assunto interessante para mais pessoas.
Este texto foi publicado originalmente como leitura complementar do mês de julho de 2020 do Clube do Livro do Design. O Clube, realizado por Tereza Bettinardi, promove debates mensais a partir da literatura do Design.