Tem um texto inteirinho sobre essa conversa entre Win Crouwel e Jan van Toorn na Recorte Ano 1 – 2021. É intitulado “O objetivo e o social em debate” e foi escrito por Felipe Kaizer.
A palavra “ensaio” aqui deve ser encarada mais no sentido de “ensaio de banda de fundo de quintal” do que de “esboço literário ou científico”.
3 Hon Porfírio escreveu sobre esse processo de colonização que até hoje afeta nosso julgamento sobre o que é bom e o que é ruim, em “O design não tem um problema de diversidade”, que faz parte da Recorte Ano 1 – 2021.
Tema de debates acalorados tanto nos primeiros períodos da faculdade quanto no famoso debate entre expoentes do design holandês dos anos 19701, um dos princípios fundamentais do design é a relação entre “forma e função”.
No campo do design gráfico, vale frisar, o enunciado já aparecia como “forma e conteúdo” bem antes de a internet transformar todo tipo de profissional em “produtor de conteúdo”.
Em pleno 2022, e ainda por cima em uma revista independente de design, ninguém merece mais uma discussão sobre o ovo e a galinha, e menos ainda uma definição do que é o “bom design”.
Este ensaio2 visual busca, ainda que de forma bem mambembe, evidenciar designs que fazem parte da nossa cultura, história e memória gráfica. Designs que, às vezes por serem muito banais, outras por não serem chiques nem refinados o suficiente para os padrões da nossa tradição importada de design3, acabam sendo ignorados, mas que são tão dignos de premiações, publicações e admirações quanto certos logos do Wollner.
O cartaz & a pomada
Uma consequência pouco discutida da relação intrincada entre forma e conteúdo é que, embora muita gente se disponha a discorrer sobre um cartaz razoável de um filme aclamado (ou vice-versa), poucas terão a mesma disposição para defender um layout, por mais emblemático que seja, se ele estiver envolvendo uma pomada para assaduras anais.

A garrafa & o líquido dentro dela
A garrafa de Coca-Cola é frequentemente descrita como “uma das silhuetas mais reconhecíveis” do mundo do design de embalagens. E é verdade, não tem muito como contestar.
Outra coisa que também é verdade, mas que é dita com muito menos frequência, é que o Corote conseguiu igualar o feito da Coca-Cola em um mercado muito mais saturado – e com uma verba muito menor.

O comprovante & o comprovado
Um recibo, impresso em papel termossensível. Um sonho. (<) Uma angústia. (>)

O astronauta & o picareta
Oportunismo? Com certeza. Fraude? Muito provável que sim. Ainda assim, um clássico? Sem sombra de dúvidas.

A civilização & a barbárie
Este singelo pedaço de papel é capaz de civilizar o funcionamento de qualquer atendimento lento e barra ou precarizado, impedindo que a raiva do usuário (frustrado com prazos, processos ou serviços) instaure um clima de completo caos e anarquia no ambiente.
Um pequeno pedaço de papel para o usuário, um grande passo para o bom funcionamento de qualquer burocracia, seja ela privada ou estatal.

O trabalho & as condições trabalhistas
No geral, para esta série, foram escolhidos itens de design pouco valorizados, que fazem parte do nosso cotidiano. Ao lembrar da existência deste artigo de luxo, entretanto, fez-se necessário abrir uma exceção: uma simples caderneta capaz de deixar qualquer moleskine no chinelo.

O “cânone não canônico do design brasileiro” surgiu, inicialmente, como forma de divulgar a Triz, fonte da fundição belorizontina Typeóca, que atua como protagonista e coadjuvante em todos os layouts.
A ideia inicial era incorporar o “Andy Warhol da Carreta Furacão” para mostrar o potencial da fonte de fazer qualquer artigo parecer de luxo.
No meio do caminho, entretanto, o que era pra ser só umas imagenzinhas pra chamar atenção nas redes sociais foi se transformando até virar este “ensaio visual”.
Fica aí o lembrete de que muitas coisas podem ser mais de uma coisa; e de que, tanto na prática profissional quanto na vida pessoal, o processo muitas vezes é mais importante do que o objetivo.