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17 de agosto de 2022

De Fred Hampton a Paulo Galo: o design a serviço da desmobilização de movimentos sociais

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Ilustração cedida por Dinelli (@1dinelli no Instagram).

Em março de 2022, a Agência Pública divulgou a reportagem “A máquina oculta de propaganda do iFood”. Assinada pela repórter Clarissa Levy, a investigação trouxe a público uma série de documentos, fotos e relatos revelando que a empresa de delivery de comida contratava agências de publicidade para sabotar a organização dos entregadores por melhores condições de trabalho. Entre as táticas utilizadas estavam a criação de memes, páginas e perfis falsos nas redes sociais, além de agentes infiltrados em manifestações.

Ao ler a reportagem, percebi que as estratégias das agências de publicidade a serviço do iFood muito se assemelham às táticas inescrupulosas usadas pelo FBI entre 1956 e 1971 para desmobilizar movimentos sociais como o Partido dos Panteras Negras e o Movimento dos Direitos Civis nos Estados Unidos. Neste texto, traçarei um paralelo entre esses dois casos aparentemente distantes, trazendo referências de filmes e documentários para exemplificar como o design pode ser uma ferramenta contra grupos que lutam por direitos civis e trabalhistas.

Uma disputa de narrativas

A figura central dessa história é Paulo Lima, também conhecido como Paulo Galo. Ele é líder do movimento Entregadores Antifascistas e principal alvo da campanha orquestrada pelas agências Benjamim Comunicação e Social Qi (SQi), citadas na reportagem da Agência Pública. Em entrevista ao UOL, ele conta que o movimento nasceu em março de 2020 com o objetivo de denunciar a precariedade do trabalho dos entregadores, acentuada pela pandemia de covid-19, e lutar por direitos básicos. Em suas palavras, “trabalhar com fome no estômago e carregar comida nas costas é uma tortura”. Do outro lado e por trás dessas agências, está o popular app de delivery iFood, que se descreve como “uma empresa de tecnologia aplicada ao universo da alimentação” em seu site institucional.

O início do confronto de narrativas entre os dois lados é marcado pelo “Breque dos Apps”, a primeira grande greve nacional organizada por entregadores de aplicativos como iFood, Uber Eats, Loggi e Rappi, em julho de 2020. A mobilização on-line e nas ruas assustou o iFood, que, apesar de recorrer aos meios convencionais para reparar sua imagem pública, percebeu que eles não seriam suficientes para desinflar a onda crescente de paralisações.

Apenas oito dias após o Breque dos Apps, a página de conteúdo político “Não Breca Meu Trampo” foi criada no Facebook. Em relato à Agência Pública, uma pessoa que trabalhou para as agências de publicidade explica que “as páginas foram feitas para ajudar o iFood no seguinte sentido: as pessoas querem fazer greve, mas o iFood não quer greve, então nós usávamos a inteligência [digital] para entender como é que poderíamos esvaziar a narrativa da greve”.

Exemplos de conteúdo postado na página "Não Breca Meu Trampo" no Facebook.

A atuação das agências de comunicação não se restringiu ao meio digital. Uma das pautas estrategicamente escolhidas para desviar o foco da narrativa das greves foi a da vacinação. Em abril de 2021, a SQi enviou um funcionário infiltrado para uma manifestação no estádio do Pacaembu, em São Paulo. Fingindo ser um entregador, o homem pendurou uma faixa que pedia “vacina pros entregadores de aplicativo já!” e distribuiu adesivos para os trabalhadores ali presentes. Este foi considerado um dos principais casos de sucesso da campanha, uma vez que, no dia da paralisação, a mídia noticiou a pauta da vacinação como se fosse a prioridade do movimento.

Funcionário da agência SQi infiltrado em manifestação de entregadores no Pacaembu. Fonte: Agência Pública.

Fábrica de memes e preconceito linguístico

Meses depois da “Não Breca Meu Trampo”, outra página foi criada, a “Garfo na Caveira”, dessa vez focada em memes com teor antigrevista e que exaltavam o modelo de trabalho imposto pelos aplicativos – em um dos memes, por exemplo, é usada a imagem do personagem Julius da série Todo Mundo Odeia o Chris, conhecido por trabalhar em dois empregos, para elogiar a foto de um entregador que carregava duas bolsas térmicas nas costas.

Exemplos de memes postados na página "Garfo na Caveira" no Facebook.

É curioso notar como os memes e perfis falsos foram fabricados para imitar a forma como os entregadores se comunicam visual e verbalmente. Soa contraditório que exista um esforço enorme para gerar essas imagens, textos e vídeos, já que a “estética” dos memes é justamente a de algo feito de forma espontânea, imediata e despreocupada; nesse tipo de comunicação, imagens de baixa qualidade ou o uso de gírias e até de palavras grafadas incorretamente são lugar-comum (ao contrário de um conteúdo publicitário tradicional). No entanto, os documentos obtidos pela reportagem mostram que esses memes eram, na verdade, peças de propaganda cuidadosamente elaboradas: eles tinham um briefing, passavam por rodadas de apresentações, revisões de texto e refinamento de conteúdo até serem aprovados e compartilhados nas redes sociais. “É o que chamam de marketing 4.0 […] Você posta memes, piadas e vídeos que promovem uma marca ou ideia, mas sem mostrar quem está por trás. Sem assinar”, diz outro relato.

Apresentação de slides com planejamento de posts desenvolvidos pela SQi e enviados para aprovação. Fonte: Agência Pública.

Vale frisar que a profissionalização e uso político da linguagem dos memes não é nenhuma novidade. No Brasil, a prática ganhou dimensões absurdas durante as eleições presidenciais de 2018, marcadas pelo disparo de fake news por milícias digitais bolsonaristas. Nas eleições atuais, a disputa da comunicação digital segue entre as campanhas de Lula e Bolsonaro. Hoje em dia, é quase impossível que um candidato não conte com a ajuda de “fazedores de memes” para se comunicar com o público nas redes sociais – eu mesmo fui um dos inúmeros designers que contribuiu para a campanha de Guilherme Boulos durante as eleições municipais de 2020, criando memes, cartazes e até paródias de capas de álbuns. O problema reside no uso dessa linguagem acompanhada de práticas antiéticas, preconceituosas e criminosas.

É curioso notar como os memes e perfis falsos foram fabricados para imitar a forma como os entregadores se comunicam visual e verbalmente. Soa contraditório que exista um esforço enorme para gerar essas imagens, textos e vídeos, já que a “estética” dos memes é justamente a de algo feito de forma espontânea, imediata e despreocupada.

No caso das agências contratadas pelo iFood, a tentativa de imitar a comunicação dos entregadores, por si só, já configura preconceito linguístico e discriminação social: as expressões visual e verbal de um grupo social foram reduzidas a um estereótipo para que pudessem ser parodiadas. Esse preconceito fica ainda mais escancarado quando descobrimos que havia até um nome para se referir a esse estereótipo linguístico: o “motoquês”. Em uma das mensagens obtidas pela Agência Pública, uma funcionária da agência escreveu: “Não precisamos carregar tanto no motoquês, tá ficando meio artificial não acham?”.

Conversa entre funcionários da agência de marketing em grupo de WhatsApp. Fonte: Agência Pública.

COINTELPRO e os Panteras Negras

COINTELPRO (acrônimo de Counter Intelligence Program) foi um programa secreto de contrainteligência criado em 1956 por J. Edgar Hoover, primeiro diretor do FBI, com o objetivo inicial de combater o Partido Comunista dos Estados Unidos e que, mais tarde, estendeu sua atuação para “expor, infiltrar, desorganizar, manipular, desacreditar, neutralizar e, se necessário, eliminar” quaisquer líderes e movimentos políticos considerados “subversivos”. A lista de alvos do programa era extensa: incluía nomes como Malcolm X, Martin Luther King Jr. e John Lennon, e organizações como o Partido dos Panteras Negras, o Movimento Indígena Americano e o Movimento de Libertação das Mulheres.

Entre os métodos e práticas ilegais realizados pelo FBI estavam a interceptação de correspondências e comunicações, espionagem, falsificação de documentos, manipulação da opinião pública com boatos e propaganda, infiltração de agentes, incitação de violência e, por fim, assassinatos. O COINTELPRO permaneceu secreto até 1971, ano em que um grupo de ativistas antiguerra do Vietnã arrombou um pequeno escritório do FBI na Pensilvânia e descobriu documentos que comprovavam as práticas ilegais do programa, expondo-o para o público com a ajuda de jornais da época.

Para compreender o funcionamento e as consequências trágicas desse Terrorismo de Estado coordenado pelo FBI – e perceber como algumas de suas práticas se assemelham ao que o iFood fez com o movimento dos entregadores –, podemos olhar para o caso em que o COINTELPRO tentou sabotar o movimento dos Panteras Negras e um de seus líderes, Fred Hampton. O Partido dos Panteras Negras foi um dos maiores e mais influentes movimentos sociais da história. Por ser uma organização antirracista e revolucionária, que combatia a polícia e o sistema capitalista de frente, era visto como uma ameaça pelo governo dos Estados Unidos, tornando-se um dos principais alvos do COINTELPRO.

Judas e o Messias Negro (dir. Shaka King, 2020) é um excelente retrato desse embate e, enquanto cinebiografia baseada em fatos reais e de apelo popular (a obra concorreu ao Oscar de Melhor Filme em 2021 e levou os prêmios de Melhor Ator Coadjuvante e Melhor Canção Original), serve como ponto de partida para nossa análise. O impacto cultural do filme foi tanto que inspirou um projeto de lei para remover o nome de Edgar Hoover de um prédio do FBI, mesmo que suas práticas criminosas já tivessem sido reveladas há décadas.

O filme concentra sua narrativa nas figuras de Fred Hampton, líder da filial de Chicago dos Panteras Negras que foi assassinado aos 21 anos pela polícia, e William O’Neal, jovem negro cooptado pelo FBI para se infiltrar no partido e obter informações sobre Hampton que mais tarde contribuiriam para o seu assassinato.

Cena do filme Judas e o Messias Negro (dir. Shaka King, 2020). Fonte: Warner Bros. Pictures.

Em memorando oficial do FBI de 1968, Hoover alertava a necessidade de “evitar o surgimento de um ‘messias’ que pudesse unificar e eletrificar o movimento militante nacionalista negro”. Hampton caminhava para se tornar o tal messias – durante a trama, acompanhamos seus esforços para a criação da Coalizão Arco-Íris, que tinha a intenção de unificar diferentes movimentos e grupos étnico-raciais da classe trabalhadora, incluindo negros, latinos e brancos pobres – e foi assassinado por conta disso. O filme então busca fazer justiça ao legado do jovem líder genialmente interpretado por Daniel Kaluuya (que recebeu um Oscar pela atuação), apresentando suas ideias e contribuições para as próximas gerações. A produção do longa foi acompanhada de perto pelo filho Fred Hampton Jr. e sua mãe Akua Njeri, sobrevivente do ataque que tirou a vida de seu companheiro.

A narrativa ilustra diversas das táticas aplicadas para desmobilizar os Panteras Negras. E o papel de “vilão” do longa – uma vez que o “Judas” interpretado por Lakeith Stanfield (também indicado ao Oscar) era apenas outra vítima – acaba sendo dividido entre o FBI enquanto instituição e os policiais envolvidos direta ou indiretamente nas ações do COINTELPRO.

Uma das cenas mais interessantes do filme mostra uma reunião de agentes do FBI para redigir um panfleto falso em nome dos Panteras Negras, no intuito de incitar uma briga do grupo com The Crowns, uma gangue inspirada em organizações reais da época. Há uma breve discussão sobre como certa gíria deveria ser utilizada, e o chefe da operação comenta: “eu definitivamente já ouvi eles usando essa palavra antes!”. Mais tarde, Fred Hampton e seu grupo vão ao encontro da gangue para convencê-los a participar de sua coalizão. O líder dos Crowns então questiona Hampton sobre os panfletos supostamente espalhados pelos Panteras, que insultavam e acusavam os membros da gangue de traidores. Enquanto lê o panfleto em voz alta, o próprio líder da gangue percebe o uso estranho de uma das gírias (a mesma da cena anterior); Hampton entende imediatamente o que está acontecendo e explica que aquilo tinha sido escrito por policiais.

Panfleto forjado pelo FBI em cena de Judas e o Messias Negro. Fonte: Warner Bros. Pictures.

É possível perceber que o panfleto falsificado que aparece no filme continha elementos da identidade visual dos Panteras Negras, mais especificamente do projeto gráfico do The Black Panther, jornal oficial do partido. Emory Douglas – designer gráfico, ilustrador e ministro da cultura do Partido dos Panteras Negras – é o artista por trás da linguagem gráfica que definiu o movimento revolucionário dos Panteras Negras nos anos 1960 e que inspira movimentos pelo mundo até os dias de hoje.

Algumas capas da publicação semanal The Black Panther. Projeto gráfico de Emory Douglas.

No minidocumentário Emory Douglas: The Art of The Black Panthers (dir. Andre Andreev, 2015), acompanhamos Douglas trabalhando em seu estúdio e narrando um pouco de sua incrível história. Em dado momento, ele conta que agentes do FBI entravam nas gráficas parceiras do jornal para ler as edições antes de serem publicadas e que era comum que a polícia forjasse cartas e outros documentos – replicando a linguagem visual e imitando o papel timbrado utilizado pelos Panteras Negras – para causar problemas com a população e ameaçar comerciantes locais em nome do partido. O documentário está disponível gratuitamente e com legendas no YouTube.

Frames do documentário Emory Douglas: The Art of The Black Panthers (dir. Andre Andreev, 2015).

​​Em 2021, Emory Douglas foi convidado pela agência Gravillis Inc., responsável pela comunicação do filme Judas e o Messias Negro, para “remixar” um de seus cartazes icônicos, que homenageava Fred Hampton e um de seus mais poderosos discursos: “você pode prender um revolucionário, mas não pode prender a revolução”.

Cartaz original de Fred Hampton e releitura feita por Emory Douglas para divulgação de Judas e o Messias Negro.

De Fred Hampton a Paulo Galo

Em diversas entrevistas, Paulo Galo reforça a inspiração dos Entregadores Antifascistas nos Panteras Negras e frequentemente cita Fred Hampton. Galo compartilhou, em uma thread no Twitter, que foi um dos responsáveis por trazer Fred Hampton Jr. para o Brasil em 2007, num evento com a participação do rapper Mano Brown e que presenciar aquele encontro de dois líderes foi um dos momentos mais marcantes de sua vida. Anos depois, a trajetória de Galo começaria a se aproximar da de Fred Hampton de um jeito que ninguém poderia imaginar.

Mais importante que identificar as táticas de desmobilização é conhecer e utilizar as táticas de mobilização para enfrentá-las.

Em um dos momentos mais revoltantes da reportagem da Agência Pública, publicitários da Benjamin Comunicação comemoram os resultados da página “Não Breca Meu Trampo”, que, segundo eles, tinha sido bem-sucedida ao disseminar a narrativa antigrevista e enfraquecer a liderança de Paulo Galo. “A gente matou o Galo”, dizem, no sentido de que a agência teria matado, simbolicamente, o líder dos Entregadores Antifascistas. O mais chocante é que a morte metafórica poderia ter resultado em violência física ou, pior ainda, na morte de fato, assim como o assassinato brutal de Fred Hampton. No vídeo, uma publicitária relembra com empolgação que Galo quase foi espancado por outros entregadores no Pacaembu, após a agência ter espalhado a notícia falsa de que ele era candidato a vereador.

Trecho de vídeo da reunião entre publicitários. Fonte: Agência Pública.

Um detalhe ainda mais revoltante por sua contradição absurda é que a publicitária que declara a morte do Galo tem como plano de fundo de sua videochamada um cartaz com o logotipo da campanha “NO”, que, em 1988, contribuiu para a queda da ditadura militar chilena. No contexto dessa campanha, o design foi usado para mobilizar a população chilena a votar “Não” durante o plebiscito que decidiria se o ditador Augusto Pinochet permaneceria no poder (o resultado foi de 55,99% pelo “não” e 44,01% pelo “sim”). Ou seja, soa como uma piada de mau gosto que a mesma pessoa que coordena uma campanha publicitária para desmobilizar trabalhadores esbanje o símbolo de outra campanha que tinha o objetivo oposto. Infelizmente, o esvaziamento e “sequestro” de símbolos continua sendo uma prática muito comum. Para quem não conhece a história do plebiscito nacional do Chile de 1988, vale a pena assistir ao ótimo filme NO (2012) dirigido por Pablo Larraín e protagonizado por Gael García Bernal.

Cartaz do filme NO (dir. Plablo Larraín, 2012) e trabalhadores chilenos em protesto contra a ditadura Pinochet em 1988. Fotógrafo: Marcelo Montecino.

Combatendo símbolos

Mais importante que identificar as táticas de desmobilização é conhecer e utilizar as táticas de mobilização para enfrentá-las. Estamos no meio de uma disputa de narrativas, mas isso não significa que as nossas ações devam ficar somente no campo das ideias ou presas à intangibilidade do meio digital – basta observar outros exemplos de design de protesto durante a história para entender como designers podem ser aliados também nas ruas. Seja diante do Estado, como no caso dos Panteras Negras, seja em uma empresa privada bilionária, como no caso dos Entregadores Antifascistas, é preciso contra-atacar; e o design é uma ferramenta essencial nessa luta.

Paulo Galo é alguém que entende, como ninguém, a importância de se combater esses símbolos opressores. Em 2021, junto ao movimento Revolução Periférica, ele foi um dos responsáveis por incendiar a estátua do bandeirante e escravagista Borba Gato, que começou a ser construída em 1957 após concurso público promovido pela prefeitura de São Paulo. Em entrevista ao podcast Podpah, Galo explica o que motivou o ato e resumiu num tweet porque símbolos de opressão devem ser enfrentados com símbolos de resistência:

“Eles querem matar o que eu simbolizo, nos já aprendemos a lutar contra os seus símbolos também. Os seus símbolos precisam de dinheiro para estar de pé, os nosso símbolos tem sobrevivido em nossos corações por séculos. O que o dinheiro não compra é o que vai destruir vocês!”

Tweet de Paulo Galo publicado em abril de 2022.

Nós designers e artistas somos, em muitos casos, responsáveis por criar esses símbolos. Precisamos, cada vez mais, enxergar o design como uma ferramenta de transformação, pois todo design é político; todo design “serve ou subverte o status quo“, como pontua Ruben Pater, citando Tony Fry, na introdução do livro Políticas do Design. A luta dos entregadores de aplicativo é uma luta de todos nós, porque, se a “uberização” já aconteceu com essa profissão, também vai acontecer (ou melhor, já está acontecendo, pois somos “nativos da precarização”) com a nossa e tantas outras. Dessa forma, o primeiro passo para garantirmos nossos direitos como trabalhadores é a consciência, organização e a solidariedade de classe.

Encerro o texto de forma esperançosa, com a mesma fala que fecha o documentário de Emory Douglas: “A arte tem relevância. Seja para te explorar ou te pacificar; ou para te iluminar e te informar. É uma linguagem, este é o seu poder”.

Este texto faz parte da coluna Ficção é Realidade, co-editada por Gus Kondo. Nela, obras ficcionais como filmes, séries e livros são usadas para compreender e enfrentar o mundo real.

é cartazista, designer pro cinema e pra vida real. Fascinado pelo poder narrativo, cultural e político do design, abandonou a área de UX para unir o seu ofício com a sua paixão pelos filmes.
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