Políticas do Design é uma leitura reveladora e, por vezes, desconfortável. Publicado originalmente em 2016 e recém-traduzido para o português, trata-se de um livro pequeno que faz uma grande reivindicação: ‘este livro não é sobre design de propaganda política ou de partidos, mas reconhece que todo design é político’.
Por inúmeros exemplos, Ruben Pater nos mostra que a ignorância cultural, estereótipos arraigados e preconceitos pessoais podem se infiltrar nos atos mais bem-intencionados. Se o ponto, a linha e o plano são os alicerces clássicos do design gráfico, a primeira grande contribuição de Políticas do Design está no sumário — os 61 artigos que compõem o livro são organizados em capítulos/seções que correspondem aos princípios formais da disciplina: Linguagem e tipografia, Cor e contraste, Imagem e fotografia, Símbolos e ícones, e Infografismo. Essa estrutura reforça sutilmente a mensagem de que mesmo os aspectos mais banais da prática do design gráfico trazem consequências significativamente políticas.
Cada texto fornece uma pequena gota de iluminação. Pater fornece insights sobre tópicos que estão em qualquer manual básico de comunicação visual: perspectiva, psicologia das cores, leitura de imagens, mapas, gráficos, a distinção entre pictogramas e ideogramas. A diferença é que agora as dimensões políticas estão escancaradas e nem sempre a imagem que nós designers fazemos de nós mesmos é agradável.
Muito se fala de uma prática social do design, por vezes entendida como uma espécie de armadura para enfrentar uma ‘força do mal’ externa a tudo que diz respeito à nossa prática. Os adeptos dessa crença acreditam que o design tem o poder de lutar contra as desigualdades da humanidade, mas parecem ignorar os conflitos internos do nosso campo profissional. É fácil fazer uma exposição de cartazes contra a desigualdade… Difícil é ter que lidar com o fato de que toda a vez que ouvimos ‘um bom designer precisa ter boas referências visuais’ expõe o caráter elitista da nossa profissão. À medida que avançamos a leitura, fica mais claro que tudo o que você faz como pessoa, como cidadão, não é muito diferente do que você faz enquanto designer.
Esse livro não tem por objetivo ensinar como fazer boas ações, mas acaba por colocar um espelho bem na nossa cara. É um convite ao exame crítico da nossa prática cotidiana para encontrar as dimensões políticas que sempre estiveram presentes, mas para as quais estamos cegos.
Este texto foi publicado originalmente como leitura complementar do mês de junho de 2020 do Clube do Livro do Design. O Clube, realizado por Tereza Bettinardi, promove debates mensais a partir da literatura do Design.