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12 de fevereiro de 2021

O encontro entre jornalismo e design

Estúdio compartilhado pela equipe da designer Tereza Bettinardi e pela arquiteta Mariana Wilderom antes da pandemia

Quantos designers são necessários para trocar uma lâmpada? Era uma piada que surgia com frequência nos eventos d’A Escola Livre, projeto que mantive com Guilherme Falcão entre os anos 2015 e 2018. A resposta: três. Dois para dizer que teriam feito diferente e um para efetivamente trocar a lâmpada. Já peço desculpas por explicar a piada, mas volto sempre a essa anedota para refletir sobre o que está em jogo quando nos aventuramos a fazer crítica em design gráfico.

Ao mesmo tempo, é comum nos acostumar com a superfície das redes: o foco no trabalho finalizado, nos resultados, nos mockups digitais. A engenharia da própria rede não facilita o compartilhamento dos processos, das falhas, dos desvios no processo. A narrativa sobre como se chegou àquele resultado é linear… Ignoramos os percalços, tomadas de decisão que estão fora do controle do designer ou mesmo as dinâmicas sociais e de classe que tornaram aquela encomenda possível.

O exercício da crítica precisa de dados e este é o grande mérito de Studio Culture, lançado em 2009. Desiludidos com a maneira como as editoras convencionais abordavam o design gráfico, Adrian Shaughnessy e Tony Brooks fundaram a Unit com a intenção de publicar livros feitos para e por designers gráficos. O formato jornalístico da entrevista é peça-chave para fazer deste livro uma ferramenta fundamental de análise e crítica. Studio Culture foi o primeiro produto desse esforço: um robusto compilado de entrevistas com 28 estúdios de design gráfico. 

Tereza Bettinardi e equipe (Maria Julia Rêgo e Barbara Cutlak) durante a pandemia

Pouco se sabe ou se diz sobre como os estúdios trabalham para oferecer caminhos criativos, coerentes, responsáveis e que consigam, ao mesmo tempo, ganhar dinheiro suficiente para sobreviver. As entrevistas fornecem retratos reveladores das circunstâncias únicas que permitiram a criação de cada estúdio. De aspectos práticos da administração a tópicos mais abstratos, como as virtudes de uma cozinha limpa, cada relato faz você se sentir como se estivesse ouvindo uma conversa íntima entre colegas. E é exatamente sobre isso que se trata afinal. 

À medida que mais e mais recém-formados saem das escolas de design para encontrar o desemprego e a falta de oportunidades, a capacidade para administrar um negócio se torna um imperativo para a sobrevivência. Por outro lado, num ambiente em que todos são CNPJs ambulantes, quais são as condições colocadas na mesa? Como os relatos do livro podem ser contrapostos à realidade brasileira, por exemplo?

Este texto foi publicado originalmente como leitura complementar do mês de junho de 2020 do Clube do Livro do Design. O Clube, realizado por Tereza Bettinardi, promove debates mensais a partir da literatura do Design.

atua desde 2014 em seu próprio estúdio em São Paulo e tem quase 15 anos de experiência na profissão. Foi professora em diversas instituições de ensino de design e em 2020 fundou o Clube do Livro do Design, projeto que já reuniu mais de 300 participantes.
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