Quantos designers são necessários para trocar uma lâmpada? Era uma piada que surgia com frequência nos eventos d’A Escola Livre, projeto que mantive com Guilherme Falcão entre os anos 2015 e 2018. A resposta: três. Dois para dizer que teriam feito diferente e um para efetivamente trocar a lâmpada. Já peço desculpas por explicar a piada, mas volto sempre a essa anedota para refletir sobre o que está em jogo quando nos aventuramos a fazer crítica em design gráfico.
Ao mesmo tempo, é comum nos acostumar com a superfície das redes: o foco no trabalho finalizado, nos resultados, nos mockups digitais. A engenharia da própria rede não facilita o compartilhamento dos processos, das falhas, dos desvios no processo. A narrativa sobre como se chegou àquele resultado é linear… Ignoramos os percalços, tomadas de decisão que estão fora do controle do designer ou mesmo as dinâmicas sociais e de classe que tornaram aquela encomenda possível.
O exercício da crítica precisa de dados e este é o grande mérito de Studio Culture, lançado em 2009. Desiludidos com a maneira como as editoras convencionais abordavam o design gráfico, Adrian Shaughnessy e Tony Brooks fundaram a Unit com a intenção de publicar livros feitos para e por designers gráficos. O formato jornalístico da entrevista é peça-chave para fazer deste livro uma ferramenta fundamental de análise e crítica. Studio Culture foi o primeiro produto desse esforço: um robusto compilado de entrevistas com 28 estúdios de design gráfico.
Pouco se sabe ou se diz sobre como os estúdios trabalham para oferecer caminhos criativos, coerentes, responsáveis e que consigam, ao mesmo tempo, ganhar dinheiro suficiente para sobreviver. As entrevistas fornecem retratos reveladores das circunstâncias únicas que permitiram a criação de cada estúdio. De aspectos práticos da administração a tópicos mais abstratos, como as virtudes de uma cozinha limpa, cada relato faz você se sentir como se estivesse ouvindo uma conversa íntima entre colegas. E é exatamente sobre isso que se trata afinal.
À medida que mais e mais recém-formados saem das escolas de design para encontrar o desemprego e a falta de oportunidades, a capacidade para administrar um negócio se torna um imperativo para a sobrevivência. Por outro lado, num ambiente em que todos são CNPJs ambulantes, quais são as condições colocadas na mesa? Como os relatos do livro podem ser contrapostos à realidade brasileira, por exemplo?
Este texto foi publicado originalmente como leitura complementar do mês de junho de 2020 do Clube do Livro do Design. O Clube, realizado por Tereza Bettinardi, promove debates mensais a partir da literatura do Design.