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19 de outubro de 2021

Projeto e revolução: um processo de pesquisa

Autora: Helena Matias, 9 anos – Reprodução de Derrote os Brancos com a cunha vermelha (1919), de El Lissitzky. Foto: Iraldo Matias.

Iniciando o debate

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Possibilidades e limites do currículo por competência no Ensino Superior – um caso concreto (BIAVA; ANDUJAR; MARTINS, 2012, p.7135)

Em 31 de março de 2014, eu defendia a minha tese de doutorado em sociologia na Unicamp: Projeto e revolução: do fetichismo à gestão, uma crítica à teoria do design – que, no mesmo ano, foi publicada em formato ebook (2014) pelo belíssimo trabalho de resistência editorial da Editoria Em Debate. Naquele fatídico dia, um de meus avaliadores, arquiteto crítico e militante, ao evidenciar a crítica que meu trabalho desferiu sobre o caráter reformista do design funcionalista, me questionou de forma sincera e preocupada sobre o destino de meu texto: “Para quem você escreve?”. E prosseguiu em sua indagação, argumentando que eu “corria o sério risco de ter escrito para ninguém”. E continuou: “Para seus pares é certo que não foi. Já dei aula em um curso de Design e duvido que a maioria de seus colegas passe da página 30 da sua tese. Eu imagino o desconforto que seu pensamento deve causar em um Departamento de Design.” Tais palavras foram proferidas não sem um sorriso irônico de soslaio, por alguém que sabe bem o que significa manter certas posições no métier acadêmico projetual. Há quem diga que “esta situação, contudo, não é recorrente, visto que o professor que não acompanha a linha proposta não se sustenta no curso”1. Isto talvez justifique uma de minhas conclusões sobre os preceitos da pedagogia do consentimento que impera no campo do design: “manda quem pode e obedece quem tem juízo”. Felizmente ou não, jamais me guiei por este ditame.

De fato, as observações de meu arguidor me preocuparam, pois não estava entre meus objetivos “escrever para ninguém”. Eu acreditava realmente que aquilo que escrevi merecia ser lido, pois uma de minhas motivações era oferecer um conjunto de reflexões a que não tive acesso em minha formação. Em algum momento do processo tomei consciência de que eu escrevia, antes de tudo, para estudantes de Design que compartilhassem algumas das minhas inquietações. Especialmente porque estes, assim como muitos de nós, viriam a compor o proletariado toyotizado e uberizado contemporâneo. Desde 2010 eu lecionava em uma instituição pública que, no entanto, fazia apologia ao “Deus-Mercado”. Lá testemunhava os prejuízos pedagógicos decorrentes das “parcerias” com empresas, assim como a inculcação da ideologia empreendedorista, necessária para formar futuros trabalhadores conformistas que enfrentarão um mercado extremamente concorrido e que, provavelmente, terão que se entregar à precarização, mas cheios de orgulho por se considerarem “patrões de si mesmos”. Em uma formação deste tipo, torna-se indesejável todo e qualquer pensamento crítico, em benefício do pragmatismo imposto pelas “necessidades das empresas”. Passei, portanto, a vivenciar como professor aquilo que eu havia experimentado como estudante, muitos anos atrás.

Contra todas as expectativas, aos poucos comecei a receber retorno sobre meu trabalho, primeiro de ex-alunos, depois de estudantes de diversos lugares do Brasil que passaram a me escrever, ora agradecendo por se sentirem representados pela discussão realizada, ora dizendo que o estavam usando como referência em suas pesquisas. Passei a receber convites para integrar bancas de dissertações e de teses que ousavam enveredar pela investigação das relações entre projeto e as mazelas do modo de produção capitalista. Assim como tive a notícia, impensável até então, de que meu trabalho estava sendo estudado por alguns professores da área em seus núcleos de pesquisa. Também passei a palestrar em eventos acadêmicos, onde vi de perto a ânsia dos estudantes por um debate teórico de maior profundidade, em detrimento da aridez tradicional do campo do Design. Em uma dessas oportunidades surgiu justamente a ideia desta reflexão, acerca do longo processo que deu origem à minha pesquisa e à sua publicação.

Caso os estudantes de hoje considerem o cenário acadêmico do design escasso de uma produção mais crítica ao capitalismo, ainda assim, a situação é sensivelmente melhor do que aquela que encontrei “no meu tempo”. É sobre isso que versa este artigo, os (des)caminhos que me levaram a desenvolver a pesquisa de Projeto e Revolução. Afinal, as contradições surgiram logo cedo com meu ingresso na Graduação em Design de Produto. Enfim, ao mesmo tempo em que eu passava a vivenciar e militar no movimento estudantil contra o eterno desmonte das universidades públicas, alguns professores ruminavam: “quem é contra o capitalismo, ou é louco, ou está no curso errado!”. Naquele momento passei a refletir sobre a minha sanidade, mas, principalmente, comecei a acreditar que eu estava de fato no curso errado. Assim como Dieter Rams declarou recentemente, eu também pensava que se fosse possível voltar ao passado, teria feito outro curso. Apesar da declaração, o “designer da Braun” não tem muito do que se queixar, mas eu precisei buscar outros caminhos profissionais e intelectuais. Anos depois, entendi que eu cursara e não cursara a área errada, ao mesmo tempo. Milagres da dialética!

No início dos anos 2000, quase nenhuma obra da teoria do design que pudesse ser considerada crítica estava acessível aos estudantes, para além do ecologismo romântico de Victor Papanek e das críticas passadistas ao “industrialismo” com base na artesania, questões que acabaram seduzindo muitos de nós. Mas, foi também um momento em que Gui Bonsiepe (2011) voltava a publicar, com a obra Design, Cultura e Sociedade, o que causou grande alvoroço. Mais do que pelas posições defendidas diretamente naquela e em outras obras de Bonsiepe, percebi que havia uma tradição de debate na teoria do design que parecia perdida no tempo. Foi a essa arqueologia da produção teórica na área projetual a que me dediquei.

Foram muitos os desafios nessa empreitada de pesquisa. E, talvez, o primeiro deles tenha sido o de demonstrar a pertinência da investigação do design como objeto de estudo sociológico. Mais especificamente, analisar o projeto a partir de uma perspectiva marxista, inserido nas contraditórias relações sociais de produção capitalistas e, portanto, na luta de classes. E mais, realizar uma revisão historiográfica e reinterpretar os principais “marcos” na linha do tempo do design, aqueles geralmente elencados nos principais “manuais” da área: Arts & Crafts, Deutscher Werkbund, Bauhaus, HfG Ulm, etc.

O design como ciência social aplicada. Mas qual ciência social?

A pesquisa enfrentou resistências não só no campo projetual, onde a questão do projeto só se colocava como problema técnico e mercadológico; mas, também dentro da própria área de Humanas, para a qual o problema não parecia ir além de um fenômeno fútil próprio da “sociedade de consumo”. É bem verdade que existe uma grande parcela de responsabilidade dos designers acerca dessa aura que paira sobre a profissão, como demonstra Wright Mills (2009) em um ensaio crítico dos anos 1950, quando já se denunciava essa dimensão manipuladora da cosmética industrial, própria do styling. Assim como Wolfgang Fritz Haug (1997) que, na década de 1970, criticava o caráter sedutor da estética da mercadoria, no capitalismo pós-II Guerra.

Por outro lado, nos anos 1980 e 1990 começava a se olhar para a possibilidade de uma convergência entre a área projetual e as chamadas Humanidades, com o surgimento daquilo que foi nomeado eufemisticamente de “design social”, em contraposição ao “design para o mercado”. Neste sentido, não havendo mais como desviar o olhar das grandes contradições do capitalismo na segunda metade do século XX, alguns designers, como Jorge Frascara (2000), propuseram uma apropriação epistemologicamente pragmática e politicamente reformista das Ciências Humanas, voltada a supostamente resolver ou minimizar “problemas sociais” por meio do projeto. Já se delineava um caminho de diálogo – mas ainda não o meu.

Em resposta, surgiram longas discussões tentando mostrar que “todo design é social”, no sentido de se tratar de uma atividade socialmente determinada. Eram os primórdios do debate, que deixava escapar o caráter filantrópico dessa proposta, ora ingênua e bem intencionada, ora totalmente dentro da lógica capitalista do “Terceiro Setor”, que logo desembocou na barafunda do “empreendedorismo social”.

Sobre o design integrar a área das Ciências Sociais Aplicadas no sistema acadêmico nacional – o que deveria por si só demonstrar a relação entre essas áreas do conhecimento –, desde a Graduação fazíamos aos nossos professores (e, futuramente, aos nossos colegas) uma pergunta tão tola quanto óbvia: “qual Ciência Social vocês aplicam?”. O silêncio que se seguia era ainda mais esclarecedor do que qualquer resposta possível… Lembro-me exatamente do momento (e de tudo que ocorreu depois…) em que comecei a me interessar pelas Ciências Sociais, a partir do meu ingresso na Iniciação Científica, num projeto de orientação antropológica. Logo que esse conteúdo começou a se manifestar, ainda que de forma rudimentar, em meus trabalhos (e nos de outros colegas que iam pela mesma linha), em diferentes disciplinas e especialmente no TCC, a resistência do corpo docente foi imediata. Houve uma tentativa de proibir… sim, PROIBIR a utilização de teorias sociais como fundamentação teórica de nossos Trabalhos de Conclusão de Curso! Diziam: “Querem usar Antropologia, mas só Antropologia, querem usar Sociologia, mas só Sociologia, que vão fazer um curso de Antropologia e Sociologia!” – e eu fui, com o canudo de design debaixo do braço. Entretanto, a resposta dos estudantes também foi imediata: reuniões, debates, assembleias, ocupações de conselhos colegiados, etc. Ao lembrar das reações dos nossos professores a este e outros movimentos, o conceito quase-antropológico de “vergonha alheia” ganhou contornos renovados.

Foi ali que começou minha pesquisa sobre essa dimensão da teoria do design, inicialmente, para fundamentar nossas posições em defesa do direito de realizar TCC’s utilizando teorias sociais, há exatos 20 anos, num curso que integra a Grande Área das Ciências Sociais Aplicadas. Parece absurdo, é absurdo, mas é a verdade nua e crua, infelizmente. Também é verdade que uma das professoras mais empenhadas daquela época na tentativa de abolir o uso de teorias sociais no design, anos depois defendeu seu Doutorado utilizando Pierre Bourdieu (sim, o sociólogo!) como sua base teórica. Darwin diria que houve aqui uma evolução, se me for permitido citar biólogos em artigos sobre design.

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O irracionalismo é um fenômeno descrito por diversos autores como Lukács e Carlos Nelson Coutinho como uma crítica da razão iluminista, porém a partir de uma concepção subjetivista, onde a intuição, a vivência e o relativismo são as novas réguas da razão

Essa trajetória cheia de “causos” me levou a uma elucidativa (ao menos para mim) jornada pela história e pela teoria do design. Sem precisar regressar muito no tempo, o caso da HfG Ulm (1953-1968) me parece exemplar. Geralmente criticada por um suposto “racionalismo” – uma caracterização que passa longe de uma crítica materialista apropriada do pensamento idealista alemão vigente na época, trata-se de um ataque próprio do irracionalismo pós-moderno2 –, a formação humanística daquela importante escola coloca em evidência o anti-intelectualismo imperante no campo acadêmico do design. Raramente as críticas contemporâneas à HfG mencionam o patrocínio do grande capital estadunidense proveniente do Plano Marshall, como já notava Lucy Niemeyer (1998), o que hoje seria um sonho para os entusiastas das “parcerias” com o setor privado, que lutam por migalhas de pequenas e médias empresas se regozijam por fazer parte do “setor produtivo”. Se em meu trabalho dediquei um esforço considerável para apresentar as contradições e limites da Escola de Ulm, é preciso reconhecer que nos encontramos hoje muito aquém dessa experiência pedagógica.

Em suas obras Tomás Maldonado (1971; 1977), ex-professor e ex-Reitor em Ulm (1964-1966), insere a teoria do design no debate humanístico dos anos 1960 e 1970, na Europa. Percorrendo com incomparável erudição áreas como Filosofia, Sociologia, Economia, História, etc., Maldonado lança mão do conceito de fato social total do sociólogo funcionalista Marcel Mauss, para definir a prática projetual. Além disso, mobiliza conceitos como o de necessidades, de cultura material, de trabalho, de alienação, entre outros, a partir de filósofos, sociólogos, economistas, historiadores tais como Hegel, Feuerbach, Smith, Ricardo, Marx, Gramsci, Lukács, Weber, Marcuse, Benjamin, Adorno, Althusser, etc. Assim como Bonsiepe (1978; 1983; 2011), que também circula com propriedade por essas áreas, mas concentrando seus maiores esforços intelectuais e projetuais a partir da teoria da dependência. Divergências à parte (e não são poucas!) com essas grandes referências, é preciso reconhecer quão longe a maioria dos “teóricos do design de hoje se encontram dessa realidade…

O Construtivismo Russo: uma experiência revolucionária silenciada

Entretanto, nem só de Ulm viveram os anos 1960, muito pelo contrário, especialmente em decorrência da intensa jornada de lutas do Maio de 68. Se aquele período foi marcado, entre outras coisas, pela convergência entre as pautas estudantis e proletárias daquele momento histórico, houve presença marcante dos estudantes das áreas artísticas e projetuais, inclusive dentro da própria HfG Ulm. Em decorrência, naquela década e na seguinte, foram produzidos inúmeros estudos e publicações sobre as experiências artísticas das vanguardas do início do século passado, mais precisamente na década de 1920, das quais gostaria de destacar o Construtivismo Russo e a escola soviética de arquitetura, arte e design – o Vkhutemas. O contato inicial com esse tema se deu ora pelos silêncios, ora pela tergiversação característica com que alguns poucos autores tratavam desta que foi uma das, senão a maior, experiência artística do século XX.

Sobre essa “Bauhaus soviética” – definição propositalmente evasiva com que se mascara seu caráter revolucionário –, pouco se tratava nos clássicos “manuais de design”. Ainda sem nenhuma referência relevante em mãos sobre o Vkhutemas, me deparei com a então recém defendida, pioneira e fantástica Tese em História Social, de Jair Diniz Miguel (2006) – a quem tive o prazer e o privilégio de ter em minha banca, dividir mesas de discussão e, finalmente, ser um dos editores envolvidos no projeto de transformação de seu trabalho em livro (MIGUEL, 2019), mais de uma década depois. Trata-se de uma das poucas obras em que tive quase tanto prazer em ler as referências bibliográficas, quanto em estudar seu próprio conteúdo. Enquanto redijo estas linhas, tomo consciência de como este aspecto estimulou meu interesse por garimpar obras, mas também de utilizar meu trabalho para condensar e disseminar um corpus bibliográfico tão pouco conhecido e divulgado, como necessário, para a formação política e intelectual na área de projeto. Para não falar dos seus anexos, um tesouro à parte, reunindo inúmeros documentos da época, bem como traduções inéditas vertidas diretamente do russo pelo próprio autor, de textos de figuras de ponta como Aleksandr Bogdanov, Wassily Kandinsky, Boris Arvatov, Nikolai Tarabukin, Moisei Guinzburg e Aleksandr Rodchenko. Felizmente, hoje quem se interessa pelo tema tem à disposição também a produção da editora independente Kinoruss, incluindo uma belíssima edição sintetizando anos de pesquisa sobre essa imprescindível escola soviética (LIMA;  JALLAGEAS, 2020).

Outro assunto do qual me ocupei por algum tempo, ainda ligado às vanguardas russas, foi o pensamento urbanístico revolucionário, mais especificamente, a produção teórica dos desurbanistas soviéticos. Críticos ferrenhos das cidades capitalistas, com propostas de assentamentos humanos extremamente avançados para o seu tempo, buscavam superar a divisão cidade-campo tal como caracterizada pelos fundadores do materialismo histórico e dialético, Marx e Engels. Embora este tema se afaste razoavelmente do objeto que eu havia me proposto a pesquisar, o fascínio que me causou foi imediato, me conduzindo a um obsessivo esforço de levantamento e revisão bibliográfica e, por fim, a um pequeno artigo em que circulei por obras que eu jamais havia pensado existirem até então (Matias, 2010). Eis aqui mais um exemplo profícuo do tipo de pesquisa que se realizou no pós-Maio de 68, expresso em obras como as de Ceccarelli (1972), Kopp (1974), Rodrigues (1975), Quilici (1978), entre outros, mostrando como processos revolucionários estimulam, entre tantas coisas, a atividade intelectual e científica.

Produtos ou mercadorias? Ou como Marx entra nesta história

A obra de Marx chegou a mim pela militância estudantil, logo depois como “autor”. O processo inicial de apropriação de seu pensamento só não foi mais difícil do que as primeiras tentativas de utilização acadêmica de sua teoria. Na militância tudo parecia mais fácil, pois é muito comum sentir-se “marxista” após a primeira manifestação política. Mas, não é bem assim… No que tange ao design, a primeira coisa que me fascinou foi a Teoria das Necessidades e o conceito de alienação do “jovem” Marx. Sem entrar na discussão acerca da existência ou não de um “corte epistemológico” na obra deste comunista alemão, foi assim que a coisa ocorreu para mim. Como estudante de design, tudo pareceu começar a fazer sentido, especialmente a ênfase no “produto como isca”, que me levou à ideia de uma prática projetual estranhada.

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Não havendo espaço para aprofundarmos esta questão aqui, cabe assinalar apenas que se trata de uma corrente do marxismo ligada originalmente ao comunismo de conselhos, do período da Revolução Alemã (1918-1921), que tem como principais expoentes autores como Pannekoek, Korsch, Gorter, Mattick, entre outros. Também conhecido como marxismo das relações de produção (BERNARDO, 2009), uma das características mais importantes para este debate é, justamente, o entendimento de que a exploração não passa simplesmente pela propriedade jurídica dos meios de produção. Aqui a noção de controle do capital sobre o trabalho é crucial, colocando em primeiro plano a necessidade de analisar as formas organizativas tanto do capital como do proletariado. Dessa discussão também deriva a afirmação da existência de uma segunda classe capitalista: a classe dos gestores. Essa discussão perpassou Projeto e Revolução do início ao fim, onde se encontra toda uma revisão bibliográfica sobre o tema.

Logo em seguida, após minhas primeiras incursões em O Capital (1983), curiosamente um conceito me marcou imediatamente – o de mais-valia relativa. Digo “curiosamente”, pois se trata de uma noção central naquilo que posso chamar hoje de “meu marxismo” – o marxismo heterodoxo (Tragtenberg, 1981; Bernardo, 2009)2. Naquele momento, todo um esforço inicial na revisão da problemática da tecnologia realizada até ali, demonstrou-se insuficiente. A forma como Marx desvendava o processo de exploração potencializado ao máximo pelo desenvolvimento científico-tecnológico, ao mesmo tempo em que se reduzia o valor dos “produtos” (mercadorias) e da própria força de trabalho, me marcou profundamente. Além de toda a discussão sobre a forma-mercadoria, valor de uso, valor, valor de troca, fetichismo, divisão social do trabalho, etc., que me causou uma nova sensação de epifania, cujos insights formaram a base conceitual da minha pesquisa futura.

Na realidade, a ideia desse projeto de pesquisa de Doutorado surgiu em 2008, em meio à preparação para uma série de concursos e processos seletivos que prestei para iniciar minha carreira docente, na área do design. Após anos afastado dessas leituras, sem a menor perspectiva de retornar a elas – período que compreendeu todo o processo de entrada, desenvolvimento e defesa de meu Mestrado em Sociologia Política da UFSC –, retomei os estudos de velhos conhecidos, teóricos do design em diferentes especialidades mais presentes em minha formação, como Dormer (1995), Baxter (1998), Löbach (2001), Manzini e Vezzoli (2002), Iida (2005), Bürdek (2006), confesso, não me causavam boas lembranças. Ainda que a partir de uma perspectiva teórica que a mim parecia distorcida, enviesada e muitas vezes superficial, percebi que estava lidando com conceitos como trabalho, produção, necessidades, mercado, consumo, mercadoria, valor de uso, valor de troca, tecnologia, lucro, desenvolvimento sustentável, etc. Não demorou para que eu começasse a rascunhar, a partir do marxismo, glosas críticas que não teriam serventia alguma nas provas de concurso que eu iria prestar, mas que me propiciaram a elaboração do que viria a ser o projeto de pesquisa com o qual ingressei no Doutorado em Sociologia da Unicamp – a antessala de Projeto e Revolução.

Apreender a origem do design no interior da divisão social do trabalho capitalista; demonstrar como a gestão de projeto é determinada pelas formas de acumulação, e a Ergonomia como expressão do antagonismo entre trabalho e capital; tomar os “produtos” como mercadorias; ver as necessidades e o valor de uso subordinadas ao valor (de troca); criticar a teoria do design como fetichismo; entender a obsolescência programada como parte do processo de rotação do capital; além da já citada interpretação da história do design a partir da luta de classes – estas eram algumas das pretensões iniciais dessa empreitada científica, que foram levadas a termo. Para tanto, foi necessário um profundo mergulho na teoria marxista e na Sociologia do Trabalho.

Mas, também foi necessário realizar uma ampla revisão da historiografia, dos manuais de fundamentos e metodologia e demais obras daquilo que foi nomeado genericamente como “teoria do design”, tomada como objeto de investigação e crítica sociológica. No entanto, algo ainda faltava em minha análise, pois desde os anos 1970 já haviam trabalhos de crítica do design a partir do fetichismo da mercadoria, etc., ainda que com abordagens diversas da que eu adotara. Senti que havia uma grande necessidade de atualização do debate, dando conta de uma série de novos fenômenos, mas também novos fetiches e novas ideologias, especialmente aqueles presentes nos “manuais de gestão de projeto”, relacionados às mudanças nas formas de organização do processo produtivo (e de exploração), decorrentes da reestruturação produtiva e do advento do toyotismo. Tal situação demandou todo um esforço específico de levantamento e revisão bibliográfica, além de ter antecedentes que merecem ser elencados.

Projeto e revolução como laboratório didático-pedagógico

Iniciando minha carreira docente e sendo mantido a contragosto ao longo de três anos como professor de Gestão de Projeto, acabei entrando em contato com uma realidade que até então me era estranha: jovens fascinados pelo coworking, devotos da inovação, ávidos por “cases de sucesso”, defensores dos serviços e seduzidos pelo empreendedorismo; todos buscando “agregar valor” a seus projetos e despertar as emoções de seus consumidores, provocando experiências inusitadas. Citar Donald Norman (2008) era cool. Para a realização de qualquer trabalho as paredes da sala de aula ficavam cobertas de post-it’s coloridos: “Isso é Design Thinking, professor!”, diziam os mais empolgados, fãs da IDEO (Tom Kelley era o Borat do branding!). E para quem não gostava de nada disso, havia o Plano B, de John Thackara (2008), que representava exatamente tudo isso, mas pintado de verde. Me sentia em uma distopia, num filme de ficção científica, despertando em uma câmara de criogenia em um mundo completamente diferente daquele que eu conhecia… Faziam apenas seis anos que eu havia me formado, mas pareciam séculos!

E, como professor, eu precisava avaliar não apenas “competências técnicas”, mas “competências comportamentais” (liderança, autonomia, criatividade, iniciativa, pontualidade, qualidade, etc.), mesmo sem qualquer formação em Psicologia, ou Pedagogia (nenhum professor tinha…). Estes eram os verdadeiros marcadores de “empregabilidade” dos futuros designers! Logo eu percebi que não eram essas formações que fariam diferença no processo avaliativo, mas Engenharia de Produção ou Administração. Foi como se as peças de um quebra-cabeças começassem a se encaixar. Na realidade, eu passava a vivenciar na prática aquilo que a Sociologia do Trabalho vinha dizendo há anos: reestruturação produtiva; toyotismo; apologia ao “engajamento” e exploração da componente cognitiva e emocional do trabalhador; Círculos de Controle de Qualidade e Produção por Células; just in time; kanban; tudo!

Enquanto lidava com essa situação, meu processo de pesquisa de Doutorado estava fervilhando em minha mente. Logo no primeiro semestre de trabalho docente me vi diante de quatro disciplinas, Ergonomia, Projeto e Sociologia do Consumo (ironia do destino…), além de Gestão já citada, situadas em quatro fases diferentes do curso, das iniciais às finais, perpassando todo o currículo. Em resposta a esse contexto, resolvi criar uma espécie de “programa” de ensino que, além de dar conta dos conteúdos previstos pelas ementas, trouxesse também um conjunto de elementos teóricos e conceituais, mas também práticos, que estimulassem uma postura crítica em relação às ideologias subjacentes àqueles ementários, especialmente aquelas que fetichizavam as relações de produção capitalistas. Tudo isso alinhado com as descobertas que minha Tese me trazia.

Assim, em Sociologia do Consumo passávamos pelas relações entre trabalho, produção e consumo; pela teoria das necessidades; pelos conceitos de alienação, mercadoria [valor de uso e valor (de troca)], classes sociais, cultura, etc. Discutíamos exploração, dominação e opressão (de classe, gênero e “raça”), bem como questões geracionais, na relação com o sistema econômico; confrontamos criticamente o branding, o marketing e a publicidade, além do poder das corporações modernas. Em Ergonomia, especialmente na Análise Ergonômica do Trabalho (AET), onde a categoria trabalho é fundamental (ainda que de uma perspectiva fisiológica e cognitiva), os estudantes se depararam com a abordagem sociológica da divisão social do trabalho, sobre a separação entre concepção e execução, de onde derivam os conceitos ergonômicos de trabalho prescrito e trabalho real. Também se realizava um exame crítico do taylorismo, da reestruturação produtiva e do toyotismo, observando suas implicações sobre o “sistema homem-máquina-ambiente” e sobre o próprio desenvolvimento da ciência ergonômica. Mas, principalmente, os impactos destes sistemas organizacionais sobre a vida e a saúde física e emocional do trabalhador.

Na disciplina de Gestão do Design a situação se complicou, pois ali se encontrava o centro nevrálgico de uma série de ideologias. Ainda assim, foi possível seguir com esse “programa”. Ali se aprofundava a crítica dos sistemas de “administração científica” iniciada em Ergonomia, mas enfocando principalmente os aspectos organizacionais. No entanto, esta unidade curricular foi para mim um verdadeiro laboratório, de onde saíram inúmeras reflexões que vieram a compor o terceiro capítulo de meu trabalho, em que abordei aquilo que chamei de forma muito incipiente de “virada gestorial no design”. Assim como nas disciplinas de Projeto que ministrei, além de trazer alguns elementos teórico-metodológicos e históricos específicos de momentos “emancipatórios” do design, eu tentava, sempre que possível, propor problemas projetuais que colocassem os estudantes em contato com situações que envolvessem as condições de labor e vida dos trabalhadores.

Além disso, como “design social” e “design sustentável” eram temas curriculares “transversais”, eu procurava evitar ou alertar para certas pieguices e pseudo soluções de problemas muitas vezes estruturais e insolúveis, próprios da sociedade capitalista. Principalmente com relação à sustentabilidade – assunto presente praticamente em todas as disciplinas e um dos preferidos dos estudantes – que, para o bem ou para o mal, havia sido a temática subjacente à minha Dissertação de Mestrado. Ali trabalhamos princípios da crítica à Ecologia Política no confronto com as mazelas do “capitalismo verde”.

Por fim, essa experiência se estendeu ao Programa de Educação Tutorial, o PET Design, que coordenei por um mandato de três anos. Ali foi possível aprofundar certos debates, inclusive abordar temas específicos como o da Educação. O ensino em design foi objeto de grupos de estudo, pesquisas de iniciação científica e eventos acadêmicos envolvendo estudantes e professores, com palestras e mesas-redondas, sessões fílmicas e exposições. Assim como com outros temas abordados, foram convidados vários pesquisadores importantes de áreas como Filosofia, Sociologia, Antropologia, Psicologia, Economia, Educação, etc., que contribuíram para elevar a formação de todos os envolvidos.

Tendo como “guarda-chuva” uma pesquisa de Doutorado, esse foi um projeto pedagógico relativamente solitário, tão ousado quanto experimental, baseado no velho método da “tentativa e erro”. Sem dúvida, muitos erros. Mas, com certeza, inúmeros acertos. Para não falar da resistência que causou entre docentes e discentes, especialmente entre meus “pares”. Mas, este é assunto para um outro momento… O fato é que uma geração de estudantes se formou com “algo a mais”, teórica e politicamente falando, resultado do qual me orgulho apesar dos custos pessoais que toda essa experiência me causou. Tudo isso ocorria nos “bastidores” de Projeto e Revolução, desdobramentos pedagógicos concretos de uma pesquisa que avançava em meio a altos e baixos, a “trancos e barrancos”.

Considerações finais, ou novos pontos de partida?

Projeto e Revolução surgiu com o objetivo de se tornar um “antimanual” de design. Mas, também como a intenção de suscitar novas perguntas, novos debates, mais inquietações. Por isso ela abrange um amplo leque de fenômenos, ao invés de realizar a investigação profunda e monográfica de um único tema, sendo essa talvez uma de suas maiores limitações. Entretanto, isso foi feito de forma consciente e com um propósito, o de ser um ponto de partida. Considero difícil estipular quanto tempo durou o desenvolvimento deste trabalho. O Doutorado em si se deu em 5 anos, mas poderíamos acrescer o tempo de confecção do projeto, processos de estudo e preparação para concursos, etc. Na realidade, pouco importa. O fato é que a obra finalizou um ciclo iniciado nos tempos de Graduação, há 20 anos, quando boa parte das inquietações que guiaram minha investigação já se formavam. Indagações que me levaram para “fora” do design e para o campo da Educação.

Certa vez numa mesa-redonda sobre ensino na área projetual, afirmei que estava na hora de se assumir que a Educação é uma das áreas de atuação profissional dos designers. Que se o objetivo era uma formação para o “mercado de trabalho”, não se podia mais ignorar este fato, principalmente num país com mais de 300 cursos superiores de design, formando mais de 12.000 jovens por ano. Onde e em que condições está trabalhando toda essa gente? Seria interessante verificar se este não é o “mercado” que mais absorve jovens recém-graduados, ou designers ejetados de seus postos de trabalho pela crescente precarização que assola as “áreas criativas” no país (não apenas).

Em outro momento, aceitei um convite para debater o início de um projeto de extensão universitária que atuaria como um Serviço Modelo de Design, iniciativa interessante para o atendimento de “demandas sociais”, mas numa perspectiva que se pretendia politicamente “mais militante”. Saudei e incentivei com entusiasmo aquele projeto, mas também alertei para os perigos de se querer resolver contradições sociais profundas por meio do design, ou mesmo pelo extensionismo. Eram estudantes sinceramente ávidos por atuar politicamente, por meio da profissão projetual, que não queriam “se vender para o mercado”, caso clássico. Eu os lembrei de que para ganhar a vida, é isso que faz o proletariado, vende a sua força de trabalho para o “mercado”. Militância é outra coisa. Podemos e devemos realizar “escolhas éticas” em nossa atuação profissional, mas existem limites claros e, quando atuo meramente como professor, eu conheço os meus. Sabemos que “a arma da crítica” é importante, mas não suficiente.

Disse a eles também que nunca tinha ouvido falar de um trabalhador que quisesse “mudar o mundo” manobrando sua empilhadeira, ou operando uma grua, embora eles produzam o mundo com estas e outras máquinas, no uso de seu trabalho vivo. Por que então os designers sempre se arrogam a missão de “projetar um novo mundo”? Existe um elitismo residual por trás desse romantismo que continua colocando o trabalho de concepção acima do trabalho de execução. A tarefa histórica de superação revolucionária do modo de dominação e exploração capitalista não será realizada por “profissionais” (o que inclui a “militância profissional” e os “professores críticos”). É nas lutas que deve surgir o germe das relações sociais novas. Pode parecer óbvio, mas a luta de classes é tarefa de classe, atividade política auto-organizativa, coletiva, igualitária e horizontal em seus métodos e objetivos, não algo a ser projetado por uns e executado por outros.

Referêcias bibliográficas:

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Os textos que integram a coluna Design Radical são co-editados por Rafael Bessa e são complementares ao artigo homônimo publicado na Recorte em maio de 2021. Os autores convidados por ele exploram as diferentes formas em que o design se relaciona com as condições de produção, as outras áreas do conhecimento e a conjuntura política de seu contexto histórico.

é professor do Magistério Federal (IFSC, UFSC), Bacharel em Design de Produto, Mestre em Sociologia Política, Doutor em Sociologia, membro do Laboratório de Sociologia do Trabalho e do Conselho Editorial na Editoria Em Debate (LASTRO/UFSC), ex-Coordenador do Grupo de Pesquisa - Mundos do trabalho: pensamento político-social heterodoxo (GEPENSAH), autor de Projeto e Revolução: do fetichismo à gestão, uma crítica à Teoria do Design (2014).
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