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22 de março de 2021

Manifesto pela banalização do colofão

Primeiro colofão em um livro impresso, segundo a wikipedia italiana.

1

Legal no sentido de simpático, agradável. O valor jurídico do aviso é questionável.

2

What the font, Identifont, What font is, só pra nomear os três primeiros resultados de uma busca no Bing.

Aviso legal1: o texto a seguir pode conter traços de conflito de interesses.

PARTE I: Introdução ao Colofão

Todo designer que se preze já teve a experiência de olhar para um layout, atônito, e se perguntar, como se seu incerto futuro profissional dependesse da resposta: “Que fonte é essa?”

Hoje em dia existem inúmeras ferramentas on-line2 para tentar solucionar esse dilema ancestral, mas uma ferramenta muito mais antiga e muito mais eficaz vem sendo ignorada por grande parte da comunidade do design: o colofão. “Mas o que diabos é um colofão?”

PARTE II: Definição de Colofão

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Mentira. Não se pode confiar em qualquer texto encontrado na internet, mesmo quando tem nota de rodapé.

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Esse truque é ótimo, recomendo.

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Esse ‘outras coisas’ é basicamente qualquer coisa que a pessoa física ou jurídica responsável pelo livro julgue interessante, podendo inclusive ser usado para jogar praga em potenciais ladrões de livros.

Colofão, aumentativo de colofo3, é, segundo a versão em português da wikipedia, um termo que “designa a nota final de um manuscrito ou de um livro impresso”, o que não nos diz muita coisa.

A versão em inglês da wikipedia4, nesse caso, é muito mais completa, e afirma que o colofão é uma declaração inserida normalmente ao final do livro contendo informações sobre a sua publicação, como local de produção, gráfica, técnica de impressão, papéis e fontes, entre outras coisas5.

O colofão, como Megan Benton afirma neste livro que eu não li, serve a dois propósitos: (1) apelar aos bibliófilos que se interessam pelas curiosidades da produção de livros e (2) permitir que os produtores de livro discretamente puxem a brasa para a sua própria sardinha.

Colofão do livro Against War, impresso em Boston em 1908.

PARTE III: Objeção ao Colofão

William Addison Dwiggins, conhecido por ter cunhado o termo “graphic designer” entre outras contribuições não menos importantes para a profissão, achava que leitores não se importavam e não precisavam saber o tipo de informação que aparece num colofão.

Carl Rollins, entre outras coisas impressor chefe da Yale University Press, dizia que colofões eram vaidade, uma forma de “propaganda gratuita pro vendedor de papel, o encadernador da edição, o homem que espalhou a tinta de impressão”.

Dwiggins está certo em relação à relevância da informação para a maioria do público, mas não leva em consideração que as informações presentes no colofão podem ser muito importantes para um público mais específico (os tais ‘bibliófilos’ que a Megan Benton cita). Carl está certo em relação à parte da vaidade / propaganda, mas, do alto de seu cargo renomado, não consegue ver que tanto ‘propaganda’ quanto o ‘trabalho braçal’ são fundamentais para a sobrevivência da indústria gráfica.

PARTE IV: Colofão Pós-impressão

Decidi escrever este pseudomanifesto porque acredito que o colofão é uma ferramenta poderosa demais para ficar restrita ao livro impresso. O colofão ajuda o designer gráfico a escolher a fonte, o papel e a gráfica na hora de projetar, ao mesmo tempo que ajuda o type designer, o impressor e o fabricante do papel a pagar as contas. O colofão é seu amigo. O colofão é NOSSO amigo.

Botou a Identidade Visual Descolada™ que fez no portfólio? Coloca um colofão lá no rodapé, aproveita o embalo e coloca também um link pro site da Gráfica™ que imprimiu o Cartão de Visita com Borda Holográfica™. Postou o projeto de Design Especulativo™ no Instagram™? Marca lá a arroba da Foundry™ que fez as fontes que você usou, que a chance de ganhar um Repost Gratuito™ é enorme. Resolveu estampar e vender umas Camisetas com Frases Engraçadinhas™? Por que não colocar um colofão na etiqueta? Ou pelo menos na tag?

Onde houver uma fonte sendo usada, ao seu lado há de estar um colofão.

PARTE V: Considerações Finais6

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Aqui não rolou de ter título com aliteração terminada em ão, desculpa.

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Passei pra 1ª pessoa do plural pra ficar mais apelativo.

Falei de fontes, foundries e gráficas porque parti do meu ponto de vista de CEO de MEI de uma foundry independente e da perspectiva histórica do colofão, que é toda centrada no livro impresso, mas gostaria de finalizar este manifesto lembrando que o colofão não é ciumento.

Da mesma forma que, enquanto designers, lutamos7 para ter o crédito pelo nosso trabalho reconhecido, é importante lembrarmos também de todos aqueles que contribuíram para que ele fosse possível: dê crédito pro estagiário, pro ilustrador, pro fotógrafo, pro banco de imagens, pro designer que fez o ícone do Noun Project™, pra sua mãe, pro seu pai, pra Xuxa, e pra todo mundo que tiver, de alguma forma, ajudado a botar seu Layout Bacana™ de pé.

PARTE VI: Ilustração da Carreta Furacão Fazendo uma Manifestação pela Banalização do Colofão8

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Espero que o excesso de aliteração desse título tenha compensado a falta dela no título anterior. Pela atenção, obrigado.

Precisávamos de algo bem apelativo para divulgar o texto nas redes sociais e achei que esta imagem serviria bem para isso.

Ilustração por Diogo Saraiva / Estúdio Passeio

PARTE VII: O Colofão do Manifesto pela Banalização do Colofão

A Revista Recorte™ já tinha seu próprio colofão no rodapé do site antes mesmo da publicação deste texto, mas gostaria de aproveitar este espaço para elogiar publicamente:

O trabalho impecável da Undercase, que fez a Fraunces; variable font usada nos títulos da Revista™ que tem tantos eixos que vale por umas 8 fontes diferentes e ainda é gratuita.

A Inari Type, que fez a Mori Gothic; neo grotesca elegante usada nos textos de apoio da Revista™.

Diogo Saraiva, do Passeio™, por ter conseguido a proeza de deixar o Fofão fofo.

9

Eu sei que o acento caiu na Reforma Ortográfica mas eu gosto muito dele e continuo colocando nos meus textos mesmo assim. O mesmo vale para a trema.

Dominique Kronemberger e Flora de Carvalho, por terem topado embarcar nesta idéia9 errada em forma de texto, ajudando a deixar ele um pouco menos precário através da sua edição e revisão.

Gabriela Silva, que nem viu esse texto antes de ele ficar pronto mas está sempre direta ou indiretamente envolvida em todas as iniciativas furadas da Typeóca™.

A Commercial Type, que fez a Duplicate Ionic; serifada simpática estilo clarendon usada no texto corrido da Revista™ (e que ficou por último na lista porque já é rica e famosa).

é designer gráfico freelancer e, nas horas vagas, insiste em tentar ser type designer. Gabriel Figueiredo tem dificuldade de falar bem de si sem achar que está sendo pretensioso, o que o leva a adotar um tom autodepreciativo na maioria de seus textos. Gabriel Figueiredo está falando de si mesmo na terceira pessoa porque todas as outras minibios da Revista Recorte™ foram escritas dessa forma.
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