“Era o baluarte da lontra. Bem se podia dizer que era um baluarte, pois o parapeito do tanque onde o animal se encontrava era protegido por fortes barras. Uma pequena construção imitando rochas e grutas bordejava, ao fundo, o tanque oval. Devia servir de casa ao animal, mas nunca o vi lá dentro. E assim fiquei muitas vezes numa espera infindável diante daquelas profundezas negras e insondáveis, para tentar descobrir a lontra. Se, por fim, isso acontecia, era apenas por um instante, pois o luzidio inquilino da cisterna logo voltava a desaparecer na noite líquida.”
Durante as filmagens, é agradável esperar pela chegada do tempo ideal. É quando a gente faz um intervalo. Se o técnico de iluminação, um homem na casa dos quarenta, estreita os olhos, encara o céu e diz: “É… Por enquanto, não será possível…”, todos exclamamos: “Ah, que bom!”.
(…)
Nos dias de hoje, dizem que é inviável, que esperar pelo tempo ideal é contraproducente. É algo que só a equipe de filmagem de Akira Kurosawa faz. Em algumas circunstâncias, porém, eles esperam pelas nuvens. Um céu de brigadeiro não é o quadro que se deseja. Também existem vezes em que esperam para rodar quando aquela, aquela nuvem passar para o outro lado da montanha. Que não se diga que é extravagância.”
“De tudo, ficaram três coisas: a certeza de que ele estava sempre começando, a certeza de que era preciso continuar e a certeza de que seria interrompido antes de terminar. Fazer da interrupção um caminho novo. Fazer da queda um passo de dança, do medo uma escada, do sono uma ponte, da procura um encontro.”