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1 de junho de 2023

Ainda há sentido se tudo está em todo lugar ao mesmo tempo?

Ilustração 3D criada por Lomomolo (@lomomololomomolo no Instagram) para ilustrar este ensaio

É muito normal que eu veja estudantes nos corredores com pouco ânimo, talvez ainda com sono – ou já cansados – 7 e pouco da manhã. Pergunto se estão de boas e, educadamente, respondem que “sim, só queria estar dormindo”. Depois de algumas dessas, passei a responder com “sabe onde eu queria estar agora?”. Em geral, fazem um aceno com a cabeça ou arregalam os olhos, esperando que eu continue. “Exatamente aqui e agora”, eu digo. Às vezes, a reação é uma risada um pouco constrangida, às vezes um olhar confuso. Mais para frente explico como, mas isso tem tudo a ver com um certo filme ganhador do Oscar.

Não amei Tudo em todo lugar ao mesmo tempo (TTLMT), nem engajei nas diversas polêmicas que ele gerou no Twitter. Achei o filme divertido, bem executado, mas não muito mais que isso. Ainda assim, há algo intrigante sobre ele – afinal, cá estou usando umas doze horas (fora as de dois editores e uma revisora!) da minha vida para escrever este texto. Peço, então, que você use uns quinze minutos (no máximo) da sua vida para ler este ensaio e talvez mais uns trinta segundos para comentar alguns emojis lá no post do Instagram da Recorte (recomendo, especialmente, ? ou ?).

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Fragmentos extraídos do livro de ensaios Contra a interpretação (Companhia das Letras, 2020).

Veja, não estou aqui para interpretar nada para/por ninguém. Como diria Susan Sontag (1993-2004), “interpretar é empobrecer, esvaziar o mundo — para erguer um mundo paralelo de ‘sentidos’”. Simplesmente, gostaria de tentar contribuir para a recuperação de nossos sentidos. “Precisamos aprender a ver mais, a ouvir mais, a sentir mais”, e, para isso, pretendo dissolver “as considerações sobre o conteúdo nas considerações sobre a forma”1

Todo filme é (entre outras coisas) uma alegoria. Nesse caso, a ideia de “viver outros mundos” já vem sendo expressada há muito tempo, por todo tipo de gente – parece que gostamos de especular sobre essas possibilidades. Ainda na Antiguidade, por exemplo, Platão defendia a perfeição de um outro mundo – o mundo das ideias – e que as coisas que existem (tipo, existem mesmo, no nosso mundo material) são cópias malfeitas das ideias do mundo de lá. No ganhador do Oscar, a proposta dos multiversos é mais uma das muitas expressões dessa mesma ideia – é mais uma alegoria. 

Agora, acho que não consigo mais escapar de explicar o que é uma alegoria. Para não perdermos muito tempo: podemos usar uma alegoria quando nos referimos a uma Coisa Y para evidenciar um determinado aspecto da Coisa X. A Coisa Y, que aparece no filme, é a lógica dos multiversos, os saltos entre eles e todos esses recursos típicos da ficção especulativa. Aliás, esse é um termo que abarca a “ficção científica”, mas é um pouco mais abrangente e atravessa diversos eixos temáticos – desde as viagens no tempo engraçadinhas da franquia De volta para o futuro à atmosfera sombria e delirante do coming of age Donnie Darko. A Coisa X, por sua vez, é a realidade – do que realmente queremos falar.

Quando exercitamos nosso desejo de transformação através do consumo de uma obra audiovisual, por exemplo, engatamos em um processo de interpassividade: acreditamos que estamos fazendo algo enquanto não fazemos nada.

O problema é que essa ideia de outro mundo pode ser muito paralisante, principalmente quando veiculada por mercadorias culturais, como filmes ou séries. Quando exercitamos nosso desejo de transformação através do consumo de uma obra audiovisual, por exemplo, engatamos em um processo de interpassividade: acreditamos que estamos fazendo algo enquanto não fazemos nada. Daí, esses outros mundos – particularmente esses veiculados por mercadorias culturais que a gente consome – acabam sendo diferentes expressões de letargia hedônica: não transformam a realidade, só nos ajudam a aproveitar a vida diante do desespero de se viver em um mundo extremamente desigual e injusto. Trocando em miúdos, enquanto a merda está virando boné aqui, experimentamos, através da ficção, os mais diversos modos de escapar.

Lá na Antiguidade, um filósofo cético que vivia num barril, Diógenes de Sínope, rejeitou esse negócio de outro mundo que Platão defendia. Essa rejeição foi atualizada por outros filósofos, como Friedrich Nietzsche e Albert Camus – um favorito meu –, que, em síntese, concordavam que este é o único mundo que temos – é essa coisa sem sentido aqui mesmo. Nessa mesma linha, TTLMT reconhece que a existência humana é completamente caótica. Joy, personagem interpretada pela atriz Stephanie Hsu, aponta que “aqui, tudo o que temos são poucos momentos em que algo realmente faz sentido”. Nosso mundo é o que é, mas poderia ser completamente diferente, devido a qualquer razão sem sentido, qualquer acaso mínimo. Waymond, interpretado por Ke Huy Quan, explica a mesma ideia ao dizer que “as menores decisões geram grandes diferenças ao longo da vida”. Tipo, em um tempo presente alternativo, poderíamos até mesmo ter dedos de salsicha (o que, supostamente, nos faria digitar com os pés), bastasse que, por algum acaso, isso representasse uma vantagem evolutiva para nossos antepassados. 

Mas não é por nada disso que TTLMT teve tanto impacto. Se há diversas alegorias dessa mesma velha ideia, o que torna esse filme especial? Eu diria que não é o que ele expressa, mas como ele expressa (mas é também o que ele expressa). Na verdade, sua graça está exatamente na imbricação de o que ao como por meio da linguagem do audiovisual. Vamos direto ao ponto: a maior façanha do filme é representar o estado de espírito contemporâneo – o que os alemães chamariam (ou não) de Zeitgeist. O que eu quero dizer é que, sim, o filme apresenta mais uma expressão da ideia de “viver outros mundos”, mas não é uma expressão qualquer; é uma expressão perfeitamente pós-moderna

O que caracteriza essa expressão? O teor de autoironia e a recorrente citação e pastiche de diversas outras obras, estilos e gêneros, grosso modo, caracterizam uma espécie de alto pós-modernismo (estou inventando esse termo, mas talvez não). A edição do filme, inclusive, é essencial para marcar um acordo cheio de piadas internas, que, em conjunto, são capazes de tratar da anomia intergeracional do capitalismo tardio (o que eu também estou inventando, mais ou menos). Sendo mais objetivo: por meio da alegoria do multiverso, é exposto o dilema de estarmos cada vez mais desvinculados de uma realidade social partilhada. 

Isso é perfeitamente bem expresso pelo modo como a obra retrata a atenção. A edição alucinante entre os planos de universos diferentes é o recurso mais bem acabado por meio do qual essa ideia aparece, chegando muito próximo à experiência de tentar absorver o enorme fluxo de informações nas nossas vidas. Além disso, temos a representação do “vidro rachado”. Longe de ser um mero recurso visual, é uma metáfora fortíssima, que revela como nossa cognição funciona: nós só podemos prestar atenção a uma única “realidade” por vez. Isso é demonstrado na sequência do filme em que Evelyn (Michelle Yeoh) está aprendendo sobre os multiversos – e sobre os perigos de dar vários saltos consecutivos entre eles. As consequências desse perigo ficam claras no ponto de virada em que Alpha Joy se torna uma pessoa cínica e cruel.

Com o excesso de informação, nasce a escassez de atenção; e isso faz com que ela comece a ser pensada como uma mercadoria, que, pela pouca oferta e alta demanda, é rara.

Informações temos de monte: só no YouTube, 500 horas de vídeo são upadas por minuto (isso em 2022). Com o excesso de informação, nasce a escassez de atenção; e isso faz com que ela comece a ser pensada como uma mercadoria, que, pela pouca oferta e alta demanda, é rara. Assim, nossa atenção passou a ser objeto de estudo de teorias econômicas, que buscam projetar como atraí-la de maneiras cada vez mais sofisticadas. Isso, aliado ao excesso de informação (entre outros fatores), nos faz sentir cada vez mais compelidos a fazer mil coisas de uma vez, buscando otimizar nosso próprio desempenho para fazer ainda mais coisas, e assim sucessivamente, num ciclo infinito – até o desgaste completo. 

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Sim, tem um bom sentido. Vou chegar lá, continue lendo!

É exatamente assim que TTLMT nos apresenta Jobu Tupaki, o alter ego pernicioso e niilista (no mau sentido2) de Joy. Seu poder multiversal faz com que ela possa pegar um galho e transformar em qualquer outro objeto (afinal, como ela diz “tudo é um rearranjo aleatório de partículas em uma sobreposição vibratória”). E, quando somos apresentados à sua história, entendemos que ela não é vilã “do mal”; ela se torna vilã porque não consegue se vincular a nenhuma realidade em particular. Mas essa é Coisa Y da alegoria. A Coisa X – aquela de que realmente queremos falar – é nossa experiência de anomia no mundo de hoje, que é consequência da desatenção imposta pelo modo como a internet é utilizada no capitalismo tardio (“tudo o que fazemos é levado por um mar de infinitas possibilidades”).

Se concordarmos com a premissa da filosofia trágica, Jobu está certa: o mundo não tem significado algum. Em vez de desesperador, isto deveria ser libertador: podemos, nós mesmos, revesti-lo de significado. Isso é o niilismo no bom sentido. Entretanto, a condição imposta a Juju Chewbacca é o que a torna uma vilã: prestar atenção a todas as realidades o tempo todo. Como Alpha Waymond explica: “agora que ela viu muita coisa, perdeu a moralidade e a crença na verdade objetiva”. Por isso, fica impossível para ela criar significado – e isso leva à anomia que causa seu sofrimento (segura aí, vou falar sobre isso daqui a uns parágrafos). 

Infelizmente, criar significado para a existência é meio complicado hoje. Fazemos isso através da  comunicação; mas as plataformas pelas quais circulam a maior parte das informações não são desenhadas para isso. Elas são desenhadas para nos fazer perder a noção de tempo, sem que consigamos enquadrar coerentemente aquilo que vemos. Por exemplo, quando usamos nosso tempo para ler um livro ou assistir a um filme, somos capazes de fazer uma síntese: compreender alguma rede de relações. Mas tente fazer isso com seu feed do Instagram ou do TikTok: um meme para ver chapado é seguido de uma tragédia, que é seguida por uma pessoa dançando – e, logo depois, um anúncio de uma bisnaga impermeabilizante (ok, minha editora disse que talvez esse último seja só comigo.)

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Byung-Chul Han (1959-), em Sociedade do cansaço (Vozes, 2019).

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“Duas de cinco”, de Criolo.

Sabemos, por experiência própria, que esse vórtice nonsense não é algo louvável, nem uma consequência feliz do “progresso tecnológico”. Um cara que escreveu uma pá de coisas sobre a vida contemporânea3 mandou uma assim: “a técnica temporal e de atenção multitasking não representa nenhum progresso civilizatório (…) trata-se antes de um retrocesso. A multitarefa está amplamente disseminada entre os animais em estado selvagem”. Viciados e desatentos, pulamos de uma imagem a outra em um ritmo cada vez mais acelerado. Não é à toa que cada vez mais pessoas têm distúrbios psicológicos, cada vez mais variados (“alô, Foucault, cê quer saber o que é loucura?”4). Daí, cada vez mais pessoas precisam de medicação para se manterem produtivas para esse mesmo sistema que lhes adoece. 

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Émile Durkheim (1858-1917).

O mundo em que vivemos parece muito com aquela piada: o cara estava em casa; do nada um tijolo quebra sua janela e, quando ele o pega, tem a propaganda de uma vidraçaria para consertar a janela. O negócio é que, com essa lógica, nós, enquanto sociedade, acabamos por desenvolver o que um francês lá5 chamou de anomia: uma completa falta de sentido na vida. Ele escreveu um livro, chamado O suicídio, em que concluiu que esse fenômeno psicológico – e a resposta a ele com o suicídio – era bem maior nas comunidades protestantes do que nas católicas. Há controvérsias (sempre há), mas ele foi capaz de vincular essa resposta individual às condições sociais, argumentando que, nas comunidades católicas, havia mais coesão social.

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Max Weber (1864-1920).

Já em meio aos protestantes, vingava a meritocracia (estou pegando alguns atalhos) e isso fragmentava a comunidade. Coincidentemente (ou não), outro sociólogo bem famoso, um alemão que esqueci o nome6, apontou que a ética protestante estava intimamente relacionada a ele, sim, ele, o capitalismo! O que aconteceu foi que amarraram o valor moral dos indivíduos à sua riqueza material; o papo era que, supostamente, Deus recompensaria a idoneidade moral por meio de bens materiais. De lá pra cá, essa lógica e o próprio capitalismo sofreram diversas mutações e adaptações aos mais variados contextos, entre os quais está o conceito de realismo capitalista.

Uma das características mais marcantes do realismo capitalista é o fato de que ele não é exatamente imposto; nós o introjetamos – e aí passamos a achar que ele é normal.

Uma das características mais marcantes do realismo capitalista é o fato de que ele não é exatamente imposto; nós o introjetamos – e aí passamos a achar que ele é normal. Ele passa a fazer parte de como nós nos entendemos enquanto pessoas, se insere na nossa subjetividade e intoxica nosso sentido de normalidade. Essa é a parte do realismo. Daí, se acreditamos que é impossível melhorar esse sistema, a única alternativa que temos é fantasiar com outros mundos. Por isso, a imagem do vidro rachado para representar a atenção é muito concisa: só dá para se dedicar a um mundo por vez. E, enquanto estamos dedicados aos fragmentos de realidade embaladas em vídeos no TikTok, o que será desta realidade aqui?

Temos o o que, mas o que é realmente impactante no filme é sua vinculação com o como. Em um videoensaio intitulado “Why Everything Everywhere All at Once Hits So Hard” no canal do YouTube de Thomas Flight, há uma elaboração acerca da linguagem cinematográfica: “o excesso maximalista e o brusco rebote tonal de um momento para o outro capturam a anarquia desequilibrada e sem filtros que temos ao usar a internet”. Resumindo: muitas produções culturais atuais falam sobre a internet, ou colocam a internet no contexto da narrativa, ou ainda elaboram alguns aspectos benéficos ou prejudiciais da internet. Mas esta é uma das poucas que utilizam a estética da internet. Um dos diretores do filme, Daniel Scheinert, em entrevista ao portal SlashFilm, afirmou que “queríamos que o maximalismo do filme se conectasse com o que é rolar por uma quantidade infinita de coisas, algo que todos estamos fazendo em excesso”.

Nós nos identificamos não com o que é expresso, mas como tal ou tal conceito é expresso – então, trata-se de uma questão, necessariamente, estética. Digo isso porque acho que o filme reverberou tanto na Gen-Z e causou tanto mais repulsa quanto mais gerações para trás nós formos (detesto essas divisões) por um motivo material: essa foi a geração que efetivamente cresceu com a internet enquanto extensão onipresente de si mesma. Por isso, a variedade dos looks de Jobu Tupaki ressoou tanto: eles são exagerados, superlativos, emocionados (como a oscilação entre a exaltação de “fadas sensatas” e as ondas de hate on-line). E nós estamos só começando a entender as consequências disso (também fiquei muito impactado com a identificação das pessoas com outro filme, Fragmentado, que trata, essencialmente, do distúrbio de personalidade múltipla). Apesar de detestar esse tipo de etarismo, é difícil fugir disso; é uma questão muito marcada no filme e, cada vez mais, no nosso mundo. 

Portanto, a questão-chave (que deve interessar a todos, todas, todes, sei lá) é como romper com esse sentimento de saturação, que vem da aceleração da circulação de informações e da nossa atenção fragmentada e embalada (lembre-se que ela é uma mercadoria). Nesse sentido, o filme perde um pouco (perde muito!) de sua leitura politizada quando simplesmente culpa a mãe por testar os limites da filha e fragmentar a mente dela – marcar o conflito intergeracional é um dispositivo narrativo muito mais fácil (e relacionável, vamos combinar) do que explorar a ideologia imbricada na ideia de “progresso tecnológico” – ideologia que vem sendo reconhecida como solucionismo tecnológico.

Embora a técnica de multitasking seja glorificada pelo empreendedorialismo, a mercantilização da nossa atenção simplesmente estilhaça a capacidade de convivermos na única realidade que temos e de construirmos algum vínculo verdadeiramente significativo: o vínculo entre pessoas.
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No livro Emprecariado (Clube do Livro do Design, 2022), Silvio Lorusso propõe esse termo para designar a evolução pokémon do empreendedorismo: “o empreendedorismo (…) transformou-se em empreendedorialismo, um sistema generalizado de valores tão profundamente enraizado que chega a ser imperceptível”.

De novo, a alegoria: a Coisa X, de que realmente queremos falar, é que, embora a técnica de multitasking seja glorificada pelo empreendedorialismo7, a mercantilização da nossa atenção simplesmente estilhaça a capacidade de convivermos na única realidade que temos e de construirmos algum vínculo verdadeiramente significativo: o vínculo entre pessoas. O crucial é que esse vínculo só pode ser construído aqui e agora. Nunca será construído se quisermos sempre estar em “outro mundo”: seja dormindo em casa, seja naquela “realidade” em que nos projetamos quando olhamos para a superfície de uma tela. E, de novo, isso passa, necessariamente, por dimensões estética e afetiva; como nos sentimos quando estamos em algum lugar. 

A falta de sentido da existência humana não é um problema por si só. Tal qual com Jobu Tupaki, o problema que gera tanto sofrimento psíquico é, na verdade, o sufocamento das condições de criarmos sentido coletivamente, coexistindo em uma mesma realidade. Lá no corredor, digo que gostaria mesmo era de estar exatamente ali, conversando com os estudantes sonolentos, porque acho que o primeiro passo para criar vínculos é estar consciente de como esses momentos cotidianos podem ser transfigurados em momentos sublimes. Para isso, basta dedicar atenção. 

Parece que agora é o momento de confessar o algo que me fez passar tanto tempo escrevendo este texto. Susan Sontag também defende que a crítica de artefatos culturais, hoje (desde 1966, quando ela escreveu o texto), é importante para “tornar as obras de arte — e, por analogia, nossa própria experiência — mais, e não menos, reais para nós (…) a função da crítica deve ser a de mostrar como ela [a obra] é o que é, e mesmo é isso o que ela é, e não o que ela significa”. Deus me livre querer empacotar uma resposta fácil para uma condição histórica profundamente complexa (não deixe ninguém fazer isso com você). Minha única pretensão é compartilhar algumas coisas que me afetaram e começar uma conversa; o filme é uma semente.

Tudo em todo lugar ao mesmo tempo começa uma conversa quando retrata o momento mais épico simples no abraço entre mãe e filha. Um momento talvez cotidiano, mas um dos poucos em que elas conseguem se encontrar em uma mesma realidade, quando a atenção de uma mãe imigrante não está atarefada sustentando uma microempresa familiar altamente precarizada e é capaz de realmente prestar atenção na filha. Se “tudo o que temos são poucos momentos em que algo realmente faz sentido”, então, o que resta é “dar valor a esses poucos momentos”. Só assim que a falta de sentido da vida pode deixar de ser desesperadora e se tornar libertadora: criando vínculos uns com os outros neste (único) mundo que temos. Claro, isso entre dedos de salsicha e o rato Toni. Por que não?

Este texto faz parte da coluna Ficção é Realidade, co-editada por Gus Kondo. Nela, obras ficcionais como filmes, séries e livros são usadas para compreender e enfrentar o mundo real.

é designer e professor no IFPE – Recife. Doutor em Design, relatou as práticas pedagógicas junto aos estudantes na tese intitulada “Compartilhar experiências e aprender coisas”. Também investiga as articulações entre texto e imagem para a experiência estética dos livros ilustrados. Além disso, compartilha seu trabalho com desenho, pintura, ilustração e design gráfico no Instagram e discute design criticamente no Twitter e no Medium (@souzaeduardo em todos).
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